quinta-feira, janeiro 11, 2007

Palavras apressadas

As palavras saem à pressa, numa velocidade estonteante; a cortar o vento, a cortar a carne, a rasgar, a rasgar, a rasgar. Flechas e espadas reluzentes, mais rápidas do que consigo pensar. Do que quero.


Pensar.

O latejar do cérebro fura-me a massa cinzenta e eu não quero ser cinzento neste mundo grisalho. Não! Tudo se passa em duplicado, triplicado, numa dose maciça de informação que me obstrui as veias. Quase morro sem a certeza de saber se estou vivo, se alguma vez estive. Vivo. Ou não, pouco importa. A vida não espera por nós e nós também não lhe faremos o favor. As palavras são frenéticas, as frases são curtas. Vivo ou não, a quem importa? Cale-se o testemunho de palavras que ninguém vai ouvir; não há tempo para carpir. Em fábricas de brincar, fábricas de fugir. Vivo não, a alma está morta. A aceleração de palavras que tombam no chão como carros fendendo a estrada em dois, em três, em tantos pedaços de uma só vez - becos sem fim. Imagens breves em flashes, relâmpagos alvejando os céus. Aclaram-se as masmorras por detrás dos véus. Tudo fica na retina de quanto alcançam os olhos. Mortos e feridos. Luzes néon a esvoaçarem. Paredes de cimento. Electrochoques. Os raios rebentam no betão. As dores sufocam-me o fato polido. Em loucura insana asfixio. É o rodopio neste carrossel atroz. Tenho de sair.

Sair.

Desta sociedade de palavra avulsa, onde o cérebro sempre, sempre pulsa e o coração, qual canhão, dispara o homem-bala.