sexta-feira, setembro 24, 2004

Cansado!

Estou tão... que nem me apetece... A sério. Nem um...
Juro que, se pudesse, nada... Mesmo nada de...
Meu Deus! Donde veio... Esta entranhada... que me agarra à...
Não consigo. Nem...
Deixem-me ficar...

quarta-feira, setembro 22, 2004

O roubo

O maior desfalque do ano
foi por mim arquitectado
de cabeçilha a operacional
todos os papéis dele cumpri.
Não queria jóias nem ouro
da fama juro que nada quis
nem sequer os seus louros
apenas roubar-te pretendi.
Um ano de vida -esse era o plano-
em troca dar-te-ia a minha
toda, de princípio a fim,
pois se era tudo o que tinha.
Para já, ainda não falhei
ao levares-me assim
a representação das noites
pintando-as de marfim.
São luas feitas do dia
e dias gerados por ti
são sonhos de olhos abertos
pois nunca julguei, nem por sombras,
que com igual ideia
me roubarias também a mim.

quinta-feira, setembro 16, 2004

A Religião

Uns pelo próprio pé, outros guiados pela mão, todos olham num falso desespero a gula dos ponteiros. Comem segundos, um após outro, como se de uma guerra se tratasse. E tratava, mas "só para donos de relógio". Parecia aviso de um salão de jogos qualquer cuja frequência era permitida "só a maiores de 16 anos". Era um exclusivo a que "só" eles se podiam habilitar. E eu era um deles. Que sorte!...
Abertas as portas daquela igreja para "maiores de 16", todos se apressavam a tomar o seu lugar. Ou de outra pessoa qualquer, desde que se viajasse sentado no reino do Senhor. A tensão dos atrasados fundia-se no ar com a sonolência geral da plateia. Eu pertencia, inevitavelmente, ao primeiro grupo, mas a romaria começava a cada sete minutos, por isso, não me importava muito. Aliás, viagem destas ovelhas e do seu pastor estava prestes a começar. "Fechem-se as portas! Toquem os sinos!" - parecia trazer o som da voz distante.
Mas não trazia ou, pelo menos, não parecia fazê-lo. O som engolfinhado dos tristes múrmurios, aqui e ali rasgado por uma nota de música clássica mais aguda, não deixava saber ao certo o que se passava ao longe. Por perto, misturado parecia tudo. Perdão, parecia tudo misturado. Eram conversas singelas e cruzadas, exclusivas ou paralelas, para eles e para elas. Mas para mim não. Graças a Deus! (Aleluia, irmão) Assistia ao turbilhão de dentro do seu olho, onde os ventos são brandos. Os sons, as músicas, as vozes e os cheiros, todos numa fusão. Eram vidas aglutinadas na justa-posição das carruagens. Eram vidas angustiadas na posição justa das carruagens. E eu, o olho do tufão. A ver acontecer.
Freguesia após freguesia, paróquia após paróquia, estação após estação, a romaria angariava e perdia ovelhas à medida da sua descrença. O fim aproximava-se. O meu, pelo menos. Estava quase a terminar a minha viagem de comboio. Seguir-se-lhe-iam os quilómetros do metro. Depois, uma pequena subida a pé, até à colina da minha religião e chegaria lá. Ao trabalho...

segunda-feira, setembro 13, 2004

Para alguém especial

Certa manhã, eu não queria, mas os despertadores acordaram-me.
Certa manhã, eu ainda não queria, mas as gotas de água, espevitadas, acordaram-me.
Certa manhã, eu não queria mesmo, mas as torradas esturricadas acordaram-me.
Certa manhã, eu juro que não queria, mas o raio dos raios-de-sol acordaram-me.
Certa manhã, poderia ser uma manhã qualquer, mas não. Aquela manhã era certamente domingo - maldição! - e eu só queria acordar a teu lado... Nem que fosse num sonho.

sexta-feira, setembro 10, 2004

Pássaros de ferro

Hoje vi-o claramente... Aquela fuselagem ruborizada pelo sentimento da partida, de uma ida que ainda não é vinda. Pior, de duas. E separadas no tempo, para a comoção não me degolar pelo ardor do peito, pelo nó do estomâgo, pela lágrima virtual que me desgasta, sublime, a face. Rogo a Deus que não seja adeus definitivo. Tomai conta destas partidas e das suas vindas na minha ausência, mas não demasiado perto. Se esse futuro é certo, não deslargues os laços dos meus sapatos. Não estou preparado. Não, não e não!
Obrigado...

quinta-feira, setembro 09, 2004

Bienvenue...

O amor às palavras jorrando pelo chão na incandescência da recordação. As cinzas dos espelhos soltas ao vento de um refrão. Venho do passado e da sua desorientação. Venho, mas não sei se não.

Bem vindo, caro leitor, a este meu espaço de reflexão.